Talvez você já tenha ouvido falar da Economia Circular ou da Economia Compartilhada. Mas, desta vez, vamos comentar sobre um modelo que, de certa forma, inclui um pouco dessas duas ideias e ainda vai mais além: a Economia Solidária.
Concebida pelo economista austríaco-brasileiro Paul Singer, a Economia Solidária propõe um modelo de organização econômica do trabalho baseado na cooperação; sugere também um consumo mais consciente e sustentável; além de constituir-se em um movimento social que prega os valores da solidariedade, da democracia, da preservação ambiental e dos direitos humanos.
Desde 2003, a Economia Solidária foi incluída como política de governo e foi criada, também, uma Secretaria Nacional de Economia Solidária vinculada ao Ministério do Trabalho. Atualmente, existem cerca de 30 mil empreendimentos solidários pelo Brasil, nos mais diversos setores, principalmente, envolvendo agricultores familiares e catadores de recicláveis.
Gerando renda para mais de 2 milhões de pessoas, essas iniciativas de Economia Solidária são fundamentais na redução da desigualdade existente no país. Afinal, de acordo com a pesquisa Desigualdade Mundial 2018 – coordenada pelo economista francês Thomas Piketty, envolvendo outras centenas de estudiosos – o Brasil tem a maior concentração de renda do mundo, com quase 30% da receita nas mãos de apenas 1% da população.
Saiba mais sobre o assunto:
Quem foi Paul Singer?
Nascido em 1932, na Áustria, Paul Singer veio para o Brasil com sua mãe, aos 8 anos, fugindo da perseguição nazista. Na adolescência, fez curso de eletrotécnico e filiou-se aos Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Mais tarde, estudou Economia na Universidade de São Paulo (USP), fez doutorado e tornou-se professor.
Em 1996, Paul Singer formalizou sua doutrina da Economia Solidária. Mas só em 2003, essa ideia foi reconhecida pela administração federal, tornando-se política de governo. Assim, de 2003 a 2016, Singer comandou a Secretaria Nacional de Economia Solidária.
O vereador Eduardo Suplicy comenta: “Ele dedicou praticamente toda sua vida ao estudo aprofundado de como construir uma nação justa, fraterna, solidária, tema que o tornou referência dentro e fora do país.”
As 3 dimensões da Economia Solidária
A Economia Solidária inclui as dimensões econômica, política e cultural. Não se trata apenas de uma forma de fazer negócios, como também de uma forma de consumir e de agir em sociedade.
Economicamente falando
A Economia Solidária envolve iniciativas com motivação econômica, como a produção, a comercialização, a prestação de serviços, as trocas, etc. Ou seja, a Economia Solidária pode brotar dentro do capitalismo, mas tem princípios diferentes a se observar.
Afinal, a Economia Solidária incentiva a cooperação e a autogestão. É por isso que, quando se fala de empreendimentos da Economia Solidária, muitas vezes estamos falando de cooperativas.
Embora as empresas solidárias não se limitem àquelas que se enquadram como cooperativas, a Economia Solidária incentiva um modelo de negócio muito similar: colaborativo, priorizando os interesses do grupo e não os individuais, com resultados divididos entre todos.
Além disso, a ideia é que as decisões não fiquem nas mãos de um diretor ou gerente, mas sejam tomadas de forma coletiva, com propostas e votos de todos os participantes do empreendimento.
Culturalmente
Para termos uma economia efetivamente mais solidária, não basta que a produção e a comercialização sigam tais preceitos, se o próprio consumo não for repensado.
Assim, a Economia Solidária estimula o consumo consciente, com menores prejuízos para o meio ambiente, priorizando produtos e serviços locais, saudáveis e sustentáveis.
- Leia também: Os 12 princípios do Consumo Consciente.
Nesse sentido, pode-se dizer, também, que a Economia Solidária encoraja iniciativas da Economia Circular (que propõe o aproveitamento integral de recursos sem geração de resíduos) e da Economia Compartilhada (que incentiva o compartilhamento de bens, por meio de empréstimos, aluguéis, trocas, etc.).
Politicamente
A Economia Solidária representa, também, um movimento social, com uma visão de desenvolvimento que não é baseada nas grandes empresas e nos latifúndios, mas, sim, no desenvolvimento coletivo da população, com base na solidariedade, na democracia e na cooperação.
O objetivo é a inclusão socioprodutiva
Após a saída de Paul Singer da Secretaria Nacional de Economia Solidária, quem assumiu o cargo foi o subsecretário Natalino Oldakoski. Em entrevista à Revista EasyCoop (maio/junho 2018), Oldakoski comentou:
“O objetivo maior desta Subsecretaria consiste em dar continuidade e aprimorar as políticas públicas de Economia Solidária desenvolvidas por este Ministério, enquanto uma importante política de trabalho, contribuindo para a inclusão socioprodutiva dos(as) trabalhadores(as) brasileiros(as) através do trabalho coletivo e cooperado.”
Na mesma oportunidade, o subsecretário ainda declarou que considera as cooperativas como pilares da Economia Solidária. “São instrumentos e mecanismos de estruturação da produção, comercialização e consumo, promovendo a Economia Solidária tanto para dar trabalho e renda a quem precisa como para difundir no país (ou no mundo) um modo democrático e igualitário de organizar atividades econômicas.”
O Fórum Brasileiro de Economia Solidária
Além do órgão público dedicado ao tema, muitas iniciativas sociais têm se reunido em prol da Economia Solidária. Formalizado em 2003, o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) é um instrumento de articulação desses movimentos da sociedade.
O FBES é integrado por mais de 160 fóruns municipais, microrregionais e estaduais, envolvendo mais de 3 mil empreendimentos da Economia Solidária, 500 entidades de assessoria, 12 governos estaduais e 200 municípios pela Rede de Gestores em Economia Solidária.
Juntos, esses atores acompanham as políticas públicas, promovem eventos de informação e articulação, propagam e incentivam as iniciativas de Economia Solidária, tendo como metas a redução da desigualdade e a inclusão socioprodutiva e visando, por fim, um desenvolvimento socioeconômico nacional com mais benefícios para todos.
Entre as iniciativas do FBES, vale a pena conferir a cartilha Boas Práticas em Economia Solidária no Brasil.
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