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De acordo com o IBGE, o número de pessoas que trabalham por conta própria tem crescido no Brasil. No terceiro trimestre de 2021, a porcentagem de trabalhadores autônomos, segundo dados da PNAD Contínua, ficou em 27,4% – porcentagem que representa um total superior aos 20 milhões de brasileiros.
Vale esclarecer que o profissional autônomo é aquele que não possui vínculo empregatício com nenhuma empresa e realiza suas atividades profissionais de forma liberal, oferecendo seus serviços e/ou produtos para outras pessoas ou empresas por um período específico.
Já faz algum tempo que o termo freelancer – que vem do inglês – também tem ganhado popularidade no Brasil. Normalmente, porém, esse termo é mais utilizado por profissionais relacionados à tecnologia (fotógrafos, designers, programadores, etc.), Enquanto isso, a denominação “autônomo” é habituamente associada a profissões mais tradicionais (como pintores, eletricistas, costureiras, etc.). De todo, trata-se basicamente do mesmo modelo de trabalho.
Ser seu próprio chefe, ter liberdade para definir seus horários e seu estilo de trabalho e contar com a possibilidade de prestar serviços para (ou ter contratos com) várias empresas e/ou pessoas são algumas das vantagens de atuar como profissional autônomo ou freelancer.
Por outro lado, o trabalho autônomo também inclui diversos desafios, já que além de exercer a atividade a que se dedica, o profissional também precisa administrar as demais partes do seu próprio negócio: definir preços, divulgar seu trabalho, organizar as contas, entre outras responsabilidades.
Sabendo disso, preparamos este artigo para ajudar você a superar os principais desafios do trabalho autônomo. Confira:
1 – Precificação
Para muitas pessoas que trabalham por conta própria, definir o preço de seus produtos e/ou serviços representa um grande desafio.
A questão é que não existe uma fórmula fixa que seja válida para todos os casos e há diversas variáveis que podem interferir na formação de preços. Mas pode ficar tranquilo que existem, sim, alguns bons caminhos para descobrir quanto cobrar.
A primeira dica é descobrir quanto custa produzir o produto ou serviço que você deseja precificar e quanto tempo você gasta nessa produção. Somar seus custos e acrecentar uma margem de retorno pode ajudar a ter uma primeira ideia de quanto cobrar.
Outra alternativa é calcular o total das suas despesas mensais e o total de produtos/serviços que você consegue produzir nesse período, baseado em um número definido de horas de trabalho. Assim, ao dividir suas despesas pelo total produzido, você poderá ter melhor noção de quanto precisa cobrar por cada trabalho para conseguir cobrir seus gastos mensais.
Você também pode fazer pesquisas de mercado para saber quanto os seus concorrentes estão cobrando por produtos/serviços similares aos que você oferece.
E existem ainda algumas ferramentas como o Markup e o Break Even Point que podem ser muito úteis para quem deseja fazer cálculos mais precisos de precificação.
2 – Organização das contas
Se organizar as finanças pessoais nem sempre é tarefa fácil, o mesmo pode acontecer com as finanças do seu trabalho autônomo.
Aliás, é importante dizer que, mesmo trabalhando por conta própria, o ideal é tratar de maneira separada as contas de pessoas física e jurídica, já que a mistura entre esses dois orçamentos pode acabar camuflando ganhos e prejuízos e levando à desorganização financeira.
Outra boa dica é testar para descobrir a qual sistema de organização você se adapta melhor. Pode ser uma planilha de Excel, um aplicativo de celular específico ou até um caderno de notas. O importante é encontrar uma maneira de manter seu orçamento organizado, que permita fazer análises periódicas de seus ganhos e despesas.
Para compreender melhor como gerenciar suas finanças profissionais, você também pode procurar pelo apoio do Sebrae ou até fazer um dos cursos online gratuitos oferecidos pela entidade, como este.
3 – Obtenção de crédito
Assim como outros modelos de negócio, o trabalho autônomo, muitas vezes, requer equipamentos específicos para ser realizado, seja um computador, uma câmera fotográfica, uma ferramenta, etc. E esses são apenas alguns exemplos de investimentos que um trabalhador freelancer pode ter que realizar para conseguir desempenhar sua atividade.
Mas como conseguir recursos para realizar esses investimentos?
Economizar e poupar até conseguir juntar o valor necessário, certamente, é a forma menos custosa, mas nem sempre há tempo hábil para isso. Em casos urgentes, pedir emprestado ou alugar um equipamento, por exemplo, pode ser uma solução, ainda que pontual.
Quando se trata, porém, da obtenção de crédito, é preciso lembrar que, na maioria dos casos, o autônomo não pode ter acesso ao empréstimo consignado – uma das modalidades com os juros mais baixos do mercado, mas que é restrita, basicamente, a beneficiários do INSS, servidores públicos e trabalhadores com carteira assinada conveniados.
É válido considerar, portanto, soluções alternativas, como o Microcrédito, a antecipação de recebíveis ou algum financiamento específico.
Além disso, para ter mais facilidade na obtenção de crédito e conseguir taxas significativamente menores, é favorável considerar as vantagens de associar-se a uma cooperativa financeira – instituição com produtos e serviços similares aos de bancos comuns, mas que não tem fins lucrativos e apresenta diversos outros benefícios para seus associados.
De acordo com o especialista do Sebrae, Weniston Ricardo, "as cooperativas são uma alternativa mais justa para os pequenos negócios e, por isso, o Sebrae atua há quase 20 anos em parceria com os principais sistemas cooperativistas financeiros do país".
Leia também Conta em cooperativa: um jeito de economizar e ganhar mais
4 – Divulgação
Outra dúvida muito comum entre trabalhadores autônomos é como divulgar seu trabalho. Neste caso, o primeiro passo é, essencialmente, dar-se a conhecer, apresentar-se ou, em outras palavras, estar presente.
Nem sempre é necessário, já de início, criar um site e um perfil em todas as redes sociais. O ideal é começar focando nos locais e canais onde seu público se encontra.
Aliás, pensar no seu público e nas maneiras como ele costuma buscar por trabalhos similares ao que você produz pode ser muito útil para descobrir boas formas de divulgação.
Uma loja física, por exemplo, precisa estar cadastrada no Google Maps; um prestador de serviços pode cadastrar-se em um guia regional ou um guia relacionado às suas atividades; um fotógrafo, certamente, deve estar em redes como o Instagram; um professor particular que ofereça aulas para crianças e jovens pode considerar criar um perfil no TikTok, entre outros exemplos.
Em diversos casos, também pode valer a pena cadastrar-se em plataformas específicas para freelancers, como 99 Freelas, Workana ou Upwork, para conseguir alguns trabalhos e contratos pontuais.
Além disso, lembre-se que o boca a boca é a melhor propaganda. Muitas vezes, a indicação de um parente, amigo ou cliente anterior pode ser a melhor divulgação na hora de conseguir um novo contrato. Por isso, é fundamental cultivar boas relações interpessoais em todos os níveis. Isso também é válido para as redes sociais, já que esses canais permitem estabelecer relacionamentos mais próximos com seu público – o que pode ser mais eficaz do que simplesmente divulgar seus produtos/serviços.
Buscar mais informações sobre marketing digital, pesquisar sobre o impulsionamento de postagens em redes sociais e sobre o rankeamento no Google, fazer workshops ou cursos rápidos sobre o tema também pode ajudar a administrar melhor esse tipo de questões.
5 – Gestão do tempo
A flexibilidade de horários proporcionada pelo trabalho autônomo tem um preço: a disciplina. De fato, organização e disciplina são palavras-chave para um profissional freelancer conseguir bons resultados.
É claro que nem sempre você precisa seguir o horário fixo de uma empresa. Pode concentrar suas atividades em períodos que são mais produtivos para você ou mais adequados para seus clientes. Mas é importante ater-se aos prazos e horários combinados.
Nesse sentido, manter uma agenda (física ou virtual) pode ser uma boa estratégia de organização. Contar também com um calendário quinzenal, mensal ou bimestral e rever essa programação com frequência é extremamente útil.
Em muitos casos, também é importante evitar distrações: manter o celular no silencioso, desligar a televisão, reservar momentos específicos para checar as redes sociais, para fazer suas refeições, para distrair-se ou fazer tarefas pessoais.
Nesse sentido, uma técnica interessante que pode ser testada é a do pomodoro (referente ao cronômetro em formato de tomate), que intercala períodos de concentração (45 minutos, por exemplo) e de distração (15 minutos, por exemplo), com blocos de intervalo para tarefas específicas.