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Você sabia que, em todo o Brasil, já existem mais de 5.000 cooperativas com cerca de 15,5 milhões de brasileiros associados? Ao mesmo tempo, o número de startups no país já supera as 12.000 empresas. E essas instituições, cada vez mais, têm juntado forças para trazer novidades ao mercado.
Em um cenário de necessária retomada econômica como o atual, torna-se ainda mais relevante a adoção de modelos alternativos como esses – no caso das cooperativas, um modelo socioeconômico mais justo e humano e, no caso das startups, um modelo de negócio repetível, escalável e, geralmente, mais tecnológico.
A boa notícia é que muitas startups e cooperativas têm, além do mais, realizado diversos tipos de parcerias, seja por meio de acordos de colaboração, por meio de programas de aceleração ou até pela combinação de ambos modelos, formando um novo tipo de instituição: as cooptechs.
Até o Governo Federal já demonstra reconhecer a importância desses tipos de relações, havendo incluído também o setor cooperativista no Marco Legal das Startups – projeto de lei complementar aprovado na Câmara em dezembro e já encaminhado ao Senado.
Para saber mais sobre as parcerias entre startups e cooperativas, descobrir exemplos e resultados, acompanhe:
– Colaboração entre startups e cooperativas, alguns exemplos
Uma das iniciativas pioneiras envolvendo startups e cooperativas foi a Plataforma Space, lançada em 2016 pelo Sicoob Empresas (integrante do maior sistema de cooperativas financeiras do Brasil, o Sicoob) para incentivar o crescimento e a consolidação de startups financeiras (fintechs).
O Banco Digital Maré – que trabalha pela inclusão financeira de moradores do Complexo da Maré, RJ, oferecendo cartão pré-pago e uma moeda digital exclusiva (a Palafita), entre outras soluções – foi uma das fintechs aceleradas pela Plataforma Space.
Enquanto aos projetos de colaboração entre startups e cooperativas, Romário Ferreira, sócio da Coonecta (empresa dedicada a desenvolver um ecossistema de inovação cooperativista no país) comenta que:
“No [ramo do cooperativismo de] crédito, a gente vê uma busca muito grande por [parcerias com startups que ofereçam] inteligência artificial, blockchain, plataforma mobile. As cooperativas agro também têm olhado bastante para isso, buscando soluções de Big data e smart farm, por exemplo. É um movimento geral com alguns setores mais avançados.”
Exemplo disso foi a parceria firmada, em 2017, entre a Minasul – Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Varginha – e a Agrotopus – agrotech que oferece soluções de rastreabilidade segura, certificações sobre a origem, entre outras.
Vale citar também o caso da Coop – Cooperativa de Consumo, que, desde 2018, tem uma parceria com a startup Pitzi, para a venda de serviços de reparo de celulares e smartphones.
Em 2019, o Sicoob Unicoob (outro representante do sistema líder em cooperativismo financeiro no país) deu ainda novo exemplo por meio da parceria com a Plug and Play, maior aceleradora de startups do mundo.
Acompanhar de perto os ecossistemas de inovação nacional e internacional e ter a oportunidade de oferecer aos associados soluções financeiras mais humanizadas, que os entusiasmem e surpreendam, foram os objetivos apresentados pelos gestores do Sicoob Unicoob para essa parceria.
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– Cooptechs e cooperativas de plataforma
Muitas startups convencionais são conhecidas pela terminação 'tech'. Anteriormente, nós já falamos aqui, por exemplo, sobre fintechs (startups financeiras), agrotechs (startups do agronegócio), e também sobre adtechs e martechs (startups de publicidade e marketing).
Sabendo disso, já fica mais fácil entender o que são as cooptechs: as startups cooperativistas – instituições cujo modelo de negócio é repetível, escalável e muito mais ligado à tecnologia, mas que não visam à saída (exit) dos fundadores (como acontece em muitas startups convencionais) e sim à propriedade compartilhada, com benefícios para todos, seguindo os princípios cooperativistas.
As cooperativas de plataforma são bons exemplos de cooptechs.
Um caso recente é o da Ciclos. Surgida dentro do Sicoob Central Espírito Santo, em 2019, a Ciclos é uma cooperativa de plataforma com soluções de energia limpa compartilhada, telefonia, entre outras; criada para atender a demanda dos associados ao Sicoob ES por serviços não financeiros.
Gustavo Mendes, um dos fundadores da Coonecta, alerta, porém, que “nem toda cooptech é uma cooperativa de plataforma”, esclarecendo que o termo – cooptech – é mais abrangente e neutro, podendo referir-se a startups cooperativistas que não necessariamente funcionem por meio de plataformas.
– O Marco Legal das Startups
No último dia 14 de dezembro, a Câmara Legislativa aprovou o Marco Legal das Startups (PLC 146/2019 e PLP 249/2020), projeto que:
- simplifica as regras para empresas enquadradas como startups;
- dá mais segurança aos investidores, criando formatos de aporte que os protegem de eventuais passivos da empresa;
- dinamiza a relação entre o governo e as startups.
O destaque é que as sociedades cooperativas também foram incluídas entre os agentes que podem configurar-se como startups, caso cumpram com as condições de enquadramento estabelecidas pelo PLC 146/19:
- faturamento bruto anual até R$ 16 milhões;
- menos de 10 anos de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ)
- enquadramento no regime especial Inova Simples ou declaração de utilização de modelos de negócios inovadores em seu ato constitutivo ou alterador.
Para a advogada da OCB Nacional, Milena Cesar, “foi uma relevante conquista rumo à inovação do modelo societário. A presença das cooperativas na política de fomento à inovação está alinhada à tendência inovadora na qual as cooperativas já estão inseridas no Brasil”.
A menção às instituições cooperativistas em dito projeto de lei demonstra ainda que o próprio governo já reconhece a importância da relação entre startups e cooperativas, assim como a contribuição de ambos modelos para a economia e para a sociedade brasileira.