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Se no ano passado, a pandemia de coronavírus tornou ainda mais evidente a inter-relação que existe entre a saúde da população e a economia; este ano, a expectativa é de que seja a vacina contra a COVID-19 a influenciar os resultados econômicos, só que neste caso, positivamente. De todo modo, as opiniões de especialistas sobre o impacto da vacinação na economia variam.
Para entender melhor o tema, vale a pena rever alguns pontos:
Para começar, é bom perceber que – apesar da acentuada queda na atividade econômica e no PIB durante o primeiro semestre de 2020 – na segunda metade do ano, o Brasil já começou a retomada gradativa da economia.
De acordo com a mais recente PNAD/Contínua do IBGE (dezembro), cerca de 14% da população (14 milhões de pessoas) continua desempregada. Porém, segundo dados do Caged (que contabiliza as vagas de empregos formais), o país terminou o ano com saldo positivo, tendo aberto 142.690 novas oportunidades de contratação com carteira assinada.
Ao mesmo tempo, o Ministério da Economia já alertou que, ao longo de 2020, o gasto público total com a pandemia teve um impacto de cerca de R$ 743 bilhões nas contas governamentais. Desse total, cerca de R$ 320 bilhões foram destinados ao auxílio emergencial de trabalhadores e empresas. E o rombo nos cofres públicos também deve influenciar nas contas deste ano.
O início da campanha brasileira de vacinação, no dia 17 de janeiro, veio para somar esperanças a esse quadro de incertezas. Já no dia 18, foi iniciada a distribuição das primeiras 6 milhões de doses de CoronaVac pelo país. Até o início de fevereiro, mais de 2 milhões de brasileiros já haviam sido imunizados.
Mas e a partir de agora, o que deve acontecer? Quais são as expectativas de economistas, investidores e outros especialistas para os próximos meses? Qual será, afinal, o impacto da vacinação na economia brasileira? Acompanhe e saiba mais:
- Entre a vacinação e a imunização
“A vacina com certeza mudou as perspectivas e é uma luz no fim do túnel, porém, é preciso ter em mente que o caminho pela frente vai envolver grandes desafios… A perspectiva é que leve de 6 a 8 meses para que os efeitos da vacina comecem a ser sentidos.”
O comentário é do diretor-adjunto da Divisão de Saúde da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, Frederico Guanais. O economista da saúde e professor da ESCP Business School de Paris, Frédéric Bizard, corrobora a observação de Guanais:
"A vacinação não vai, em alguns dias, permitir às pessoas voltarem à viver normalmente. As medidas de proteção ainda permanecerão um bom tempo."
As ponderações feitas por Guanais e Bizard estão relacionadas à imunidade de rebanho – condição adquirida por determinada população ao ter certa porcentagem de indivíduos já imunizados.
A questão é que essa porcentagem de pessoas imunizadas pode variar de acordo com a enfermidade e com a região. Para controlar a gripe em determinada área, por exemplo, pode ser necessário vacinar entre 50% e 60% da população. Já no caso do sarampo, essa taxa subiria para aproximadamente 95% das pessoas. E no caso da atual pandemia, os cientistas têm calculado que esse percentual deve variar entre os 70% e os 90%.
Baseado nisso e no ritmo atual de imunização da população brasileira (cerca de 100 mil doses ao dia), reportagem de janeiro da BBC indica que o país levaria mais de 4 anos para ter cerca de 90% do total da população vacinada, atingindo a imunização coletiva.
Para o epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Lotufo,“o ritmo de vacinação no país está simplesmente péssimo. Nós já deveríamos ter utilizado pelo menos todo esse primeiro lote de 6 milhões de doses de CoronaVac, do Instituto Butantan e da Sinovac.”
A descoberta de mutações do coronavírus, que podem diminuir a eficácia das vacinas já testadas e aprovadas, é outra preocupação dos cientistas.
Enquanto isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, demonstra otimismo:
“O Brasil pode crescer, de repente, 5%. Depende. Se todo mundo entrasse na mesma vibração, que é: estamos recuperando, com vacinação rápida”. Guedes ainda apela: “Neste terceiro ano [de governo], o desafio é a imunização em massa. Espero que todos auxiliem esse processo.”
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- Opiniões dos especialistas
Mesmo sabendo que os resultados econômicos dependem, em parte, do ritmo e da eficácia da imunização contra o coronavírus e suas variantes, a maioria dos economistas e investidores concorda que o impacto da vacinação na economia brasileira deve ser positivo.
O que varia são as expectativas mais ou menos moderadas de cada um em relação a uma provável retomada do crescimento.
Na opinião do diretor de pesquisa econômica para a América Latina do grupo Goldman Sachs, Alberto Ramos, questões sobre o programa de imunização, como a politização da logística e os atrasos na campanha de vacinação – assim como o fim dos programas de apoio fiscal e o recente aumento da inflação (sobretudo de produtos alimentícios) –, podem gerar ventos contrários à atividade durante o primeiro semestre deste ano.
Ainda assim, o grupo Goldman prevê um aumento do PIB brasileiro entre 3,8% e 4% ao longo de 2021.
Outra projeção, da gestora de recursos ASA Investments aponta para um cenário de crescimento do PIB na faixa de 2,4% no ano.
E já no final do ano passado, a multinacional Morgan Stanley, por sua vez, havia divulgado estimativas de aumento do PIB brasileiro entre 2,1% e 5,5% em 2021.
As previsões do mercado são, portanto, otimistas. Mas estão necessariamente relacionadas à campanha nacional de vacinação já em marcha e às condições em que ocorram a sua continuidade.
Alberto Ramos ainda alerta:
“Na verdade, dado o recente cenário muito desafiador, esperamos que o Governo e o Congresso aprovem em breve outra rodada de medidas fiscais para mitigar o impacto social, econômico e de saúde pública de uma segunda onda de Covid-19 muito intensa.”
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- A vacina e os investimentos
A notícia do início da vacinação no país foi recebida com entusiasmo pelos investidores, com o Ibovespa registrando alta na sessão da segunda-feira, dia 18 de janeiro.
Anteriormente, no dia 8/01, o Ibovespa já havia registrado uma alta histórica, acima de 125 mil pontos, mas, como explicado em reportagem da Infomoney, “muito dependente do setor de commodities, sendo que as ações dos setores que permanecem abaixo dos níveis pré-pandêmicos ainda são os mais sensíveis aos bloqueios: shoppings e varejo tradicional, além de companhias aéreas.”
Nesse cenário, a campanha nacional de vacinação tem papel fundamental no incentivo para a ocorrência de novas altas.
O significado disso para o bolso de cada brasileiro vai depender, é claro, do perfil de cada um. Para quem já tem certa experiência no mundo dos investimentos, por exemplo, pode ser um bom momento para adquirir papéis de potencial valorização no médio e longo prazo.
Para quem está só começando a experimentar a renda variável, pode ser um bom momento para procurar um fundo de ações com um gestor experiente e boas taxas.
Enquanto isso, para quem ainda não poupa nem investe seu dinheiro, esta certamente é a melhor hora para começar a tomar esse tipo de atitudes mais conscientes, garantindo sua estabilidade financeira frente a qualquer cenário.