Mulheres de negócios: como conciliar maternidade e carreira?

Dicas, histórias inspiradoras e alguns conselhos de mãe, para combinar filhos e sucesso profissional.

Guia de Bolso | 13 de maio de 2020
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Maternidade e carreira: conheça histórias de mulheres de negócios
Maternidade e carreira: conheça histórias de mulheres de negócios


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Seja para mães ou pais, trabalhar e, ao mesmo tempo, dar atenção aos filhos nem sempre é uma tarefa fácil. Só que, por diversas razões, para as mulheres de negócios – sejam empresárias, trabalhadoras formais ou informais – conciliar maternidade e carreira profissional pode ser ainda mais complicado.

A importância da amamentação direto do peito, assim como o reduzido tempo de licença-paternidade regularizado no Brasil, por exemplo, são fatores que dão destaque ao papel da mãe e, paralelamente, podem impor certos contratempos, ainda que momentâneos, às profissionais do sexo feminino.

Além disso, uma pesquisa realizada por estudiosos da FGV, com dados de 2009 e 2012, demonstrou que metade das trabalhadoras com carteira assinada perdiam o emprego até 24 meses depois de sair de licença-maternidade.

Diante de desafios como esses, não é de se estranhar que 52% dos novos empreendedores brasileiros são mães, conforme revelado pelo estudo Empreendedorismo no Brasil 2019: um recorte de gênero nos negócios, realizado pela Rede Mulheres Empreendedoras.

O levantamento também constata que, entre os homens, renda extra e vocação natural são os principais motivos para abrir um negócio próprio. Enquanto, entre as mulheres, flexibilidade de horário e tempo para a família foram as principais razões apontadas.

Mas será que empreender é a solução ideal para todas as mães? Será que não é melhor tentar manter a segurança (ainda que relativa) da carteira assinada? E afinal, como fazer, em qualquer caso, para conciliar maternidade e carreira profissional?

Para ajudar as mulheres de negócios a refletirem sobre questões como essas, reunimos aqui algumas dicas e alguns conselhos de mães que já passaram por essa experiência. Vale a pena conferir:

Paternidade ativa

A diretora administrativa da Rede Mulheres Empreendedoras, Heloisa Motoki, faz questão de relembrar, antes de tudo, que cuidar dos filhos é uma responsabilidade tanto do pai quanto da mãe. 

O pai deve assumir o seu papel. Não se trata apenas de ajudar em algumas coisas, mas de dividir tarefas de modo igualitário, tanto em relação às crianças, quanto aos afazeres domésticos.

Segundo a especialista, “muitas das atividades com os filhos recaem sobre elas, e depois vem a culpa de não arranjar tempo. Mas a responsabilidade precisa ser compartilhada. Então, não faça tudo sozinha”.

À frente da Fazenda Daterra e da Fundação Educar, do grupo DPaschoal, a empresária Isabela Pascoal, mãe do João, conta: “O João tinha 9 meses quando passei uma semana em Nova York para participar de um evento. Eu lá, e ele pegou uma baita virose. Foi difícil, mas a babá e meu marido, superparceiro, estavam aqui para cuidar dele”.

O exemplo de Isabela também ajuda a refletir sobre a necessidade de certo desapego por parte da mãe. Mesmo que não esteja a quilômetros de distância, a mulher precisa aceitar ajuda, precisa assumir para si mesma que terá que contar com o apoio do pai, da família, dos professores, etc.

As mães trabalhadoras que não têm como contar com o apoio paterno (ou viceversa, já que também há excessões) devem ainda buscar outros tipos de assistência, seja paga (como uma babá) ou não (como parentes e amigos), recomenda Lucia Stradiotti, sócia da Mom’SA, empresa de incentivo e capacitação para mães empreendedoras.

“Pense antes no que você fará caso haja alguma emergência com sua criança. Não deixe esse pedido de ajuda para ser feito em cima da hora”, aconselha Lucia.

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Saber confiar e delegar

Seguindo essa mesma linha de pensamento, também é bom lembrar que as mulheres de negócios – principalmente as empresárias e líderes – precisam saber delegar tarefas profissionais quando possível.

Na opinião de algumas mães empreendedoras, essa dica é válida, não apenas para conseguir conciliar maternidade e carreira, mas também porque “sozinho não se chega a lugar nenhum”, como comenta a fundadora e CEO da Mundipagg, Verena Chopin Stukart. 

Mãe de dois filhos, a sócia-diretora da Depyl Action, Danyelle Van Straten, corrobora a visão de Verena ao comentar que “empreender é muito mais que criar um serviço, produto ou conceito. O empreendedorismo deve ser sustentável, não pode visar só os resultados”.

Danyelle ainda complementa: “Eu não quero que meus filhos busquem só o melhor currículo no mercado. Desejo e espero que eles ajudem as pessoas a se tornarem melhores. Quero que eles construam junto com as pessoas. Porque, para mim, empreendedorismo é isso: construir junto com as pessoas que fazem a empresa crescer”.

Para cada momento, uma prioridade

Outra boa dica para conseguir harmonizar a vida profissional e materna diz respeito à organização e ao planejamento. O primeiro passo para isso é reconhecer suas prioridades – incluindo os filhos, o trabalho e você própria – e reservar um tempo distinto para cada coisa.

Segundo Heloisa Motoki, principalmente entre as mães empreendedoras, é muito comum a ideia de ser multitarefas, mas em alguns momentos, isso pode acabar gerando certa frustração. Ela alerta: “Tome cuidado: a gente não é mulher-maravilha”. Lucia Stradiotti, da Mom’SA também comenta que, ao tentar fazer tudo ao mesmo tempo, a pessoa nem foca no trabalho direito nem dá atenção suficiente aos filhos. Portanto, o ideal é montar uma agenda e manter a disciplina.

Iliane Alencar, mãe da Lara e sócia-fundadora da Tecsaúde, conta: "Brinco que tenho dois empreendimentos: a empresa e a filha. Nos dois casos, preciso estabelecer processos e metas, criar uma cultura organizacional. Assim como os funcionários, a empregada e a babá precisam estar em sintonia com meus valores."

A psicóloga Priscila Cutrim faz questão de esclarecer também que, apesar de ser comum colocar os filhos em primeiro lugar, a pessoa não pode deixar de cuidar de si mesma. E isso vale tanto para as mulheres de negócios quanto para os pais e outros responsáveis.

Os momentos de descanso e de lazer, por exemplo, são tão essenciais quanto os momentos de trabalho, já que, como ressalta Priscila, “corpo e mente andam juntos; se um adoece, o outro também sente”. E afinal, se você adoece, quem vai cuidar das crianças?

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Mobilidade

Aproveitar-se do desenvolvimento tecnológico, que proporciona cada vez mais mobilidade e conexão, também é muito útil para conseguir conjugar os papéis de mãe e mulher de negócios.

Sobre o tema, Maria Alice Alves, gerente do Sebrae de São Paulo, comenta: “Hoje, há tecnologias que ajudam a fazer controles que não requeiram sua presença no negócio, como relatórios financeiros, fechamento de caixa e segurança. Com isso, o empreendedor pode monitorar parte da operação à distância. Tudo isso ajuda a dar mais flexibilidade no tempo, gerando autonomia”.

Bárbara Vitoriano, do Estação Sebrae, faz uma recomendação similar: “Invista em aparelhos que podem te manter atualizada em qualquer lugar, como na fila de um banco, na sala de espera de um médico, etc. Você vai ganhar muito tempo se aproveitar esses intervalos adiantando alguma coisa do trabalho ou mesmo lendo alguma coisa interessante”.

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Empreender é a solução ideal?

Enquanto muitos acreditam que ter um negócio próprio é sinônimo de autonomia e mais flexibilidade de horários, a publicitária Dani Junco, mãe do Lucas, alerta que é preciso ter cuidado para não romantizar demais o empreendedorismo.

Para Andrea Weichert, líder do programa de lideranças femininas da Ernst & Young, trocar uma boa posição por um negócio criado apenas por necessidade, sem planejamento, “pode ser uma decisão perigosa e sem volta”. Além disso, ao abrir um negócio próprio, segundo ela, “o mais provável é trabalhar mais horas, e não menos”.

Heloisa Motoki, da Rede Mulheres Empreendedoras, também adverte que “nós temos que correr atrás de cada cliente. O fluxo de caixa não é como o de um funcionário, que recebe todo mês. Pagamos as contas sem saber se o dinheiro dos próximos contratos irá entrar ou não”.

A partir desses comentários já dá para perceber que empreender não é a solução ideal para todas as mães. Aliás, não existe uma solução que seja adequada a absolutamente todos os casos. Como orienta Dani, “seu negócio [ou trabalho] precisa estar alinhado com quem você é, com a rotina que você tem, com o tempo que você tem disponível. Faça o mapeamento de tudo isso pensando em como é sua vida, quem são as pessoas que estão ao seu lado e que você pode contar e pedir ajuda. A partir disso, você começa a estruturar um plano mais realista”.

Enquanto isso, na opinião de Vivian Abukater, “a maternidade é uma potência para a mulher porque expande a visão de mundo e o propósito de vida. O empreendedorismo consegue canalizar tudo isso”

Mãe de dois filhos, Mariana Guazzelli, sócia-fundadora da Bebê Boutique pontua ainda: “Acredito que escolher algo que tenhamos afinidade ajuda a nos manter motivados. Mas isso não significa que não teremos muito trabalho e que grande parte do tempo executaremos tarefas não tão glamourosas quanto gostaríamos para concretizar nossos sonhos”.

Para a sócia-fundadora e estilista da Selo de Controle, Sandra Melo, mãe de três filhas, também é importante ter alguma experiência prévia no mercado de trabalho antes de empreender, “para adquirir experiência, conhecimento e confiança em si mesma e, assim, estar preparada para enfrentar qualquer situação – boa ou ruim – com mais facilidade”.

Aos 60 anos, a fundadora e conselheira da Dermage, Lisabeth Braun, mãe de Ilana Braun – que também já é mãe e herdou o cargo de CEO da empresa – é mais ousada: “Não dá para esperar as coisas acontecerem. É preciso ir lá e fazer, entrar no jogo para ganhar e competir para ter sucesso”.

Portanto, para as mulheres de negócios que desejam conciliar maternidade e carreira criando um negócio próprio, a dica final é buscar atuar em uma área em que já têm conhecimentos, ter clareza sobre objetivos e metas, e planejar-se bem.

Afinal, para construir uma empresa ou ser uma profissional de sucesso é preciso tanta superação quanto para criar um filho. Mas quem já experimentou combinar as coisas, confirma: é possível e o desafio compensa.

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