Inovação disruptiva e disrupção são termos que estão se tornando cada vez mais recorrentes nas conversas sobre empreendedorismo. Fora desse contexto, as expressões podem parecer, à primeira vista, relacionadas a complicados conceitos. Mas não são. E estão, aliás, cada vez mais integradas ao dia a dia de todos nós. Afinal, falar em inovação disruptiva é falar em microcomputadores, smartphones, serviços de streaming, plataformas online de compartilhamento e também em cooperativismo, entre outros exemplos. Quer saber a relação entre tudo isso? Confira:
Não se trata apenas de um novo jeito de denominar algo inovador, moderno ou, quiçá, revolucionário.
O conceito de inovação disruptiva pressupõe uma desestabilização (ruptura) dos padrões de consumo correntes, pois trata-se, geralmente, de uma versão mais simples ou mais barata de um produto ou serviço, capaz de atender a um público que ainda não tinha acesso a tal.
Exemplos:
– os microcomputadores vieram baratear e ampliar o acesso tecnológico antes restrito aos donos de mainframes;
– os smartphones têm ampliado e popularizado a interação digital, antes só possível a partir dos computadores;
– serviços de streaming de vídeo e de música, como o Netflix e o Spotify, têm tomado o lugar das locadoras de vídeo e lojas de CD, ampliando o acesso de todo o público;
– entre inúmeros outros.
Para esclarecer melhor a ideia, o inventor do termo, Clayton Christensen, diferencia a inovação disruptiva da inovação sustentadora.
Segundo o professor de Harvard, a maioria das inovações em produtos e serviços é sustentadora (conserva-se dentro dos padrões e modelos de consumo), podendo garantir qualidade maior ou funcionalidade adicional aos clientes atuais ou, ainda, representando avanços incrementais, podendo ser também um produto ou serviço revolucionário.
A inovação disruptiva, por outro lado, não costuma atender tão bem ao público atual, pelos padrões tradicionais. Pode carecer de certos recursos ou comodidades, pois, em geral, é mais simples, mais conveniente e mais barata, atraindo clientes novos ou com necessidades inferiores.
Segundo o empreendedor e investidor Marc Andreessen: “Uma inovação disruptiva dá a novos consumidores acesso a produtos historicamente apenas disponíveis para consumidores com muito dinheiro ou habilidades”.
Exemplos:
– uma amostra de uma inovação sustentadora pode ser a de um hospital que investe em equipamentos e treinamentos para o atendimento de ponta, voltado a um público relativamente pequeno de pacientes.
– neste mesmo ramo, um exemplo de inovação disruptiva é a MinuteClinic (sediada em Minneapolis/EUA), que abriu clínicas expressas em diversas farmácias e drogarias, oferecendo diagnósticos ambulatoriais rápidos e mais acessíveis, para um público bem mais amplo. Aliás, este especificamente é um caso de inovação disruptiva catalítica. Veja só:
A inovação catalítica é um tipo de inovação disruptiva, só que voltada à geração de mudanças sociais. Assim, inovadores catalíticos também oferecem produtos e serviços mais simples e mais baratos que as alternativas existentes, mas de forma a criar uma mudança social sistêmica por meio do dimensionamento e da reprodução.
Já é possível encontrar exemplos de entidades dos setores de saúde, educação e desenvolvimento econômico, com e sem fins lucrativos, que têm adotado a estratégia da inovação catalítica para gerar mudanças sociais. Confira:
Exemplo:
– o ensino online (no Brasil também chamado de EAD – educação a distância) pode ser entendido como uma forma de inovação catalítica, na medida em que amplia o acesso e barateia os custos de relevantes fatores sociais: a formação e a educação.
Fundado em um modelo de negócio rentável e disruptivo – o ensino de baixo custo, aberto a todos – esse tipo de prática pode apresentar maior evasão de alunos e exigir forte automotivação (não é uma inovação sustentadora), mas segue sendo uma alternativa adequada para uma população subatendida.
A economia compartilhada (também chamada de economia colaborativa) é um novo modelo socioeconômico e cultural que pressupõe, exatamente, uma ruptura com os atuais padrões de consumo.
Neste tipo de modelo, consumidor e fornecedor se confundem, negociando e compartilhando seus próprios bens uns com os outros. O compartilhamento passa a ser uma nova forma de posse. Com isso, ampliação de acesso e barateamento de custos são consequências diretas.
Portanto, quem pratica a economia compartilhada inova de forma disruptiva. E também colabora com o meio ambiente. Afinal, focando no compartilhamento e reuso, a economia colaborativa aumenta a eficiência de recursos e desestimula a produção de lixo.
Exemplos:
– o Airbnb é uma plataforma digital que já conecta usuários de 190 países, para que negociem e aluguem seus próprios imóveis, sem intermediários (há desde quartos até casas completas, castelos e casas-barco). A alternativa de compartilhamento rompe com o tradicional mercado hoteleiro, oferecendo opções mais baratas e ampliando o acesso de usuários.
– aplicativos como EasyTaxi, 99Taxis e Uber, que conectam usuários para compartilhamento de automóveis e negociação de caronas, têm irritado taxistas e empresas de rádio-táxi, por sua acessibilidade e menores preços. Segundo o jornal El País, em NY/EUA, o Uber já ultrapassou os táxis amarelos.
Saiba mais sobre economia compartilhada.
Cooperar também é forma de praticar a inovação disruptiva. As cooperativas, por exemplo, são associações de pessoas com algum interesse em comum que se ajudam mutuamente para obter vantagens também comuns a todo o grupo; vantagens essas, geralmente, ligadas ao barateamento de processos, produtos e serviços e à ampliação de acesso dos cooperados.
Exemplo:
– uma cooperativa de crédito oferece os mesmos produtos e serviços de um banco comum, mas pode cobrar taxas bem inferiores, pois não visa lucro, e sim uma melhor administração do dinheiro de seus associados. Assim, a instituição barateia produtos e serviços financeiros e amplia o acesso a eles, rompendo com a lógica capitalista de lucro e funcionando como uma ótima mostra de inovação disruptiva.
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