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À primeira vista, uma cooperativa pode até parecer uma empresa comum. Afinal, o cooperativismo é um modelo socioeconômico alternativo, com instituições que atuam em diversos ramos. Porém, as cooperativas são guiadas por princípios próprios e têm como um dos seus principais diferenciais a valorização das pessoas, promovendo, inclusive, a igualdade e o empoderamento de grupos menos favorecidos pela sociedade.
É visível, por exemplo, que as cooperativas, de maneira geral, têm especial participação na luta pelo empoderamento feminino. Mas existem também cooperativas que se dedicam especificamente ao apoio de outros grupos sociais, como os idosos e as pessoas com deficiência.
Além disso, todas as cooperativas têm, como um de seus princípios, o Interesse pela Comunidade, sendo orientadas a atuar com total responsabilidade socioambiental e a desenvolver soluções de negócios humanitárias e sustentáveis.
Quer saber como as cooperativas cumprem com esses propósitos e conhecer exemplos de instituições que promovem o empoderamento de diferentes grupos sociais? Acompanhe:
Cooperativismo e igualdade de gênero
Anteriormente, nós já comentamos por aqui como o cooperativismo ajuda a promover o empoderamento feminino, por meio da adesão livre e sem discriminação, da igualdade de oportunidades propiciada pela gestão democrática e da Educação, Formação e Informação, com cursos e encontros voltados especialmente ao público feminino.
Mais recentemente, no Dia Internacional da Mulher, a Aliança Cooperativa Internacional (ACI) divulgou também uma mensagem sobre a importância da equidade de gênero, destacando que:
A eliminação de barreiras que frustram a igualdade de gênero é um objetivo fundamental da ação cooperativa e uma prioridade fundamental para a Aliança Cooperativa Internacional e suas organizações membros
- Aliança Cooperativa Internacional
O comunicado da ACI também faz referência a alguns bons exemplos internacionais, afirmando que:
- Na Espanha, as mulheres representam 54% dos cargos de gerência e comando em cooperativas de trabalho;
- Na Etiópia, as mulheres representam até 42% dos cooperados e participam de diferentes posições de liderança, graças a uma regulamentação que estabelece que deve haver pelo menos uma mulher em cada comitê de gestão de cooperativa;
- Na Itália, o percentual de mulheres empregadas em cooperativas, comparado ao total, é de 59%;
- No Nepal, 40% do conselho de administração de cooperativas são mulheres;
- Na Nigéria, as mulheres constituem 60% dos membros de cooperativas e 45% da liderança é assumida por elas.
A mensagem da ACI reforça ainda a necessidade de "fortalecer modelos econômicos centrados nas pessoas que promovam os direitos humanos de mulheres e meninas, em todos os níveis", uma vez que a equidade de gênero é um pilar para o desenvolvimento econômico sustentável, como já deixa claro a Agenda das Nações Unidas para 2030, com seu ODS número 5.
Diante disso, é perceptível que as cooperativas podem ser uma ferramenta muito útil para ajudar a reduzir as injustiças socioeconômicas enfrentadas pelas mulheres. E tem mais! Afinal, as cooperativas também ajudam a empoderar outros grupos sociais. Veja só:
Cooperativas de idosos
De acordo com o artigo 3º do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.471, de 01/10/2003), “é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.
Sabendo disso, já existem no Brasil algumas instituições cooperativas voltadas especialmente ao cuidado dos idosos, como é o caso da Coopidade, no Rio de Janeiro, da Coopestar e da CoopHumanus, ambas em Pernambuco – cooperativas de trabalho formadas por enfermeiros e cuidadores de idosos especializados.
Outro bom exemplo é o da Sicoob Coopernapi, em São Paulo. Integrante do maior sistema de cooperativas financeiras do Brasil – o Sicoob – a Coopernapi é formada por aposentados, pensionistas e idosos, e tem por objetivo desenvolver aos seus associados o uso adequado do crédito e serviços financeiros de qualidade.
Portanto, percebe-se que o cooperativismo também colabora para o empoderamento das pessoas da melhor idade, contribuindo com seus cuidados diários, de saúde e/ou financeiros.
Cooperativas empoderam pessoas com deficiência
Ao falar de cooperativas que estimulam a igualdade e o empoderamento, é fundamental destacar ainda o papel das cooperativas especiais. Também chamadas de cooperativas sociais, essas instituições promovem a cidadania de grupos vulneráveis, como por exemplo, pessoas com deficiência, pacientes psiquiátricos, dependentes químicos e egressos do sistema prisional.
É o caso da Cooperativa Social Especial CrêSer, em Porto Alegre, que oferece um espaço de trabalho, de produção e de geração de renda para pessoas maiores de 21 anos com algum tipo de deficiência mental. Fundada no ano 2000, a cooperativa trabalha com produtos de padaria (pães, bolos, salgadinhos, etc.), de cartonagem (cadernetas, blocos, envelopes, etc.), e de horta (saladas verdes, ervas, molhos, etc.), produzidos pelos associados e comercializados na própria instituição.
Enquanto isso, no Rio Branco (Acre), desde o ano passado, tem ganhado impulso uma iniciativa similar, a Ciranda Samaúma. A ideia surgiu entre os próprios pacientes do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS II) do bairro Morada do Sol. Yara Bardalles, uma das protagonistas desse projeto, comenta:
A gente estava percebendo que tinha muitos pacientes que não conseguiam mais custear a ida até lá. Então, pensamos em uma estratégia que a gente pudesse fazer algo para que essas pessoas pudessem manter esse tratamento.
– Yara Bardalles
Daí nasceu a Ciranda Samaúma, uma cooperativa formada pelos próprios pacientes do CAPS II, que produzem artesanatos durante a terapia ocupacional, e vendem os objetos produzidos em eventos promovidos pela Secretaria Estadual de Saúde ou através das redes sociais.
Além de oportunizar a geração de renda, a coordenadora assistencial do CAPS II, Emelym Souza, opina que a cooperativa também tem funcionado de forma terapêutica, já que os pacientes são responsáveis por desenvolver todas as relações sociais da instituição, gerando um propósito em seus associados, o que é fundamental em casos de depressão, por exemplo.
“A cooperativa tem um poder muito grande de empoderar as pessoas. Eu tenho dificuldade para falar, mas tenho que estar ali explicando o produto, falando com as pessoas, explicando a cooperativa. E tudo isso me ajudou nesse meio”, conta a associada Yara Bardalles.
E esses são apenas alguns dos exemplos de como o cooperativismo estimula o empoderamento de grupos menos favorecidos, promovendo a igualdade entre todos e a valorização do ser humano.