Observando as novas tecnologias, as novas profissões e as novas jornadas laborais, fica fácil perceber que o mercado de trabalho está mudando. A indústria, por sua vez, também começa a passar por uma grande transição, rumo à quarta revolução tecnológica. Para o presidente da Aliança Global de Cooperativas (ACI), Ariel Guarco, as instituições ligadas ao cooperativismo têm o potencial de assumir o protagonismo nesse processo de transformação da economia.
Segundo o líder da ACI, “a veloz transformação da economia e a digitalização da maioria dos processo de produção, circulação e consumo de bens e serviços nos obriga a ser protagonistas. Se deixarmos que todo esse processo fique em mãos de grandes corporações, não estaremos cumprindo o papel que temos como empresas democráticas a serviço da comunidade.”
Além disso, Guarco ressalta que cooperar é uma maneira sustentável de alcançar o desenvolvimento. Para ele, “temos a capacidade de atuar em diferentes setores, na produção rural e industrial, no consumo, na saúde e educação, no habitat e muito mais. Tudo isso nos torna um movimento muito poderoso quando se trata de abordar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 17), que pede a criação de alianças globais na busca do desenvolvimento sustentável.”
Um dos motivos do sucesso das cooperativas é que elas surgem para atender as necessidades dos cooperados. Ou seja, partem de uma demanda já existente no mercado.
Silvio Castro, coordenador do curso de Gestão de Cooperativas da EAD Unicesumar, afirma que “diante das adversidades que assolam grupos de pessoas e comunidades, a constituição de uma cooperativa pode ser uma solução viável.” Por outro lado, Castro ressalta que o cooperativismo “em nenhum momento é um movimento contrário aos modelos econômicos individuais, mas uma alternativa mais simpática às demandas da sociedade.”
Quer dizer, as cooperativas têm origem nos interesses da comunidade e atuam de uma forma mais democrática e humana. Por isso, essas entidades devem seguir tendo um destacado papel no mercado e na sociedade.
De acordo com o presidente da ACI, para que as cooperativas sejam protagonistas na transformação da economia, “temos de ser capazes de falar com todas as forças políticas e incidir sobre elas para gerar contextos amigáveis ao desenvolvimento do setor, entendendo que ele favorece o desenvolvimento das comunidades.”
Ariel Guarco ainda comenta que “não podemos reagir somente quando querem nos impor mudanças normativas ou mudanças governamentais que nos prejudicam.” E completa: “É claro que pode haver mudanças abruptas nas linhas de governo, mas elas não deveriam alterar as alianças estratégicas que, como setor, temos de ter com o Estado em seus diferentes níveis.”
Assim, na opinião de Guarco, o cooperativismo deve ser capaz de dialogar com todos os setores democráticos que atuam nos cenários políticos de cada país, demonstrando a capacidade do movimento cooperativista para trabalhar em grandes eixos como o desenvolvimento sustentável, a paz, os direitos humanos e os programas econômicos que coloquem no centro o ser humano.
E a melhor forma de comprovar todo o potencial do movimento cooperativista é justamente com a união de todo o setor. Nesse sentido, o princípio cooperativista da Intercooperação assume papel fundamental. Para Silvio Castro, “partimos do princípio de ser uma gestão em grupo. Ninguém faz nada sozinho que não possa ser feito melhor em grupo.”
A evolução da atividade agrícola e a transformação digital são outros dois pontos fundamentais que as cooperativas devem levar em conta, segundo o presidente da ACI, Ariel Guarco.
“Observamos que no mundo cresce o número de pessoas que padecem de fome e que, em muitos países, particularmente do Sul, continua havendo muita desigualdade de acesso a alimentos. As cooperativas são as mais adequadas para promover a democratização do sistema agroalimentar promovendo nas áreas rurais um trabalho decente, a igualdade de gênero e o cuidado com os recursos naturais”, afirma Guarco.
O líder da ACI opina ainda que “é preciso mostrar às novas gerações as vantagens do cooperativismo no agronegócio. As cooperativas podem inovar na produção agrícola sem deixar de lado seus princípios e valores, e atuar de maneira independente. Os jovens são os mais indicados para levar a cabo a incorporação de novas tecnologias no âmbito agropecuário.”
A respeito do papel da juventude, Ariel Guarco ainda avalia: “As novas gerações estão e estarão cada vez mais com o espírito empreendedor dessa nova etapa do capitalismo mundial, Mas uma coisa é fazê-lo de um modo individual e outra de forma coletiva.”
“Hoje, de um modo um tanto quanto confuso se denomina de economia colaborativa essas plataformas que dominam a economia global. No entanto, o controle da maioria das plataformas, assim como dos lucros e os dados gerados por elas, estão concentrados em poucas mãos. As cooperativas são chave para democratizar esse sistema de economias digitais onde tanto produtores como consumidores podem ter o controle”, conclui Guarco.
Corroborando o papel de destaque das cooperativas na transformação da economia, essas instituições têm sido cada vez mais reconhecidas e apoiadas publicamente.
O novo presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, por exemplo, afirma que “há uma grande sinergia nas nossas atividades, pois o cooperativismo de crédito [nesse caso específico] tem se mostrado cada vez mais relevante e, ao longo do tempo, ganhou graus de liberdade e incorporou muitas atividades, produtos e serviços.”
Em audiência da Comissão Mista de Orçamento (CMO) ocorrida em maio no Congresso Nacional, Campos Neto afirmou ainda que “nosso objetivo é dobrar o cooperativismo não apenas no crédito para agricultura, mas também para outras áreas. O comprometimento do Banco Central com o setor é total.”
As declarações do presidente do BCB demonstram que o cooperativismo brasileiro está no caminho certo. Agora, como afirma Ariel Guarco, é preciso continuar trabalhando “para distribuir as oportunidades e incorporar a maior parte possível de pessoas para uma lógica cooperativista.” Dessa forma, o movimento não apenas assume seu papel de protagonismo, como coloca em destaque quem realmente merece liderar essa nova economia: as pessoas.
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