Você provavelmente já sabe que o cooperativismo é um modelo socioeconômico alternativo, orientado por princípios mais justos e humanos, como a Adesão Livre e Voluntária, que trata do acesso livre a quem quiser cooperar, sem nenhum tipo de discriminação. Agora, você já imaginou, por exemplo, a formação de uma cooperativa indígena?
Essa iniciativa pioneira teve lugar em Tocantins, em março deste ano, quando 21 cooperados – todos pertencentes ao povo indígena Akwe-Xerente – formalizaram a abertura da cooperativa Akwe_Xerente-Coopiax.
“É um marco histórico para todos nós indígenas, não só para o nosso povo, mas para o Estado. Pois somos os desbravadores no âmbito da cooperativa. Ela vai trazer muitos benefícios. Acreditamos que os demais povos do Tocantins podem ter como referência a nossa cooperativa”, comentou o presidente da nova cooperativa indígena, Ercivaldo Damosõkekwa Calixto Xerente.
Acompanhe e saiba mais sobre essa ideia inovadora:
Xerente é o nome dado por não-índios ao povo que se autodenomina Akwe (ou Akwẽ), uma população indígena que, atualmente, habita o cerrado tocantinense, sobretudo, ao Leste do rio Tocantins, no município de Tocantínia.
De acordo com estimativas de 2016, a população Akwe-Xerente superava, nesse momento, os 3.800 habitantes distribuídos em cerca de 70 aldeias.
Apesar de estarem inseridos em um contexto capitalista e do intenso contato com não-índios, esse povo segue mantendo viva sua língua (ainda que também falem fluentemente o português) e algumas de suas crenças e tradições.
É interessante saber, por exemplo, que os Akwe-Xerente se organizam por meio de uma divisão sociocultural em duas metades – Doí e Wahirê – associadas respectivamente ao Sol e à Lua.
Além disso, é válido comentar que esses indígenas têm como principais meios de subsistência os produtos das roças de mandioca, abóbora e milho, assim como a venda de artesanatos de capim dourado e palha de buriti.
Leia também: Conheça as Cooperativas de Energia Solar
De acordo com Ercivaldo Xerente, a nova cooperativa indígena Akwe_Xerente-Coopiax será voltada à prática da agricultura e da pecuária sustentáveis em grande escala entre os Akwe.
A ideia é facilitar a execução do projeto Etno Agricultura e Pecuária Sustentáveis, que será aplicado a uma área de 10 mil hectares, trabalhando com a policultura.
A formalização da nova cooperativa indígena foi facilitada pela Junta Comercial do Estado do Tocantins (Jucetins).
“O povo Xerente utilizou a assinatura avançada, que é gratuita e disponibilizada pelo Governo Federal. Essa novidade que a Jucetins trouxe contribuiu para que o processo deles fosse mais rápido, com o mínimo de entraves possíveis. Temos certeza de que essa cooperativa será um sucesso e vai ajudá-los muito em suas atividades na área da agricultura e da pecuária”, afirmou a presidente da Jucetins, Thaís Coelho.
Além disso, os membros da nova cooperativa indígena também contam com o apoio da unidade tocantinense da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB/TO).
Dias após a constituição da Coopiax, os membros do Conselho de Administração da cooperativa visitaram o Sistema OCB/TO para conhecer o espaço e as formas de apoio oferecidas.
“Ficamos muito felizes em receber cooperativas interessadas porque nosso papel é dar suporte para o desenvolvimento do nosso modelo de negócio. Estamos à disposição e muito animados com o pioneirismo indígena no cooperativismo”, disse o analista de Cooperativismo e Monitoramento, Magnum Vinicius, que recepcionou os cooperados da Coopiax na ocasião.
Leia também: Conheça as Cooperativas de Energia Solar
Apesar da formalização de uma cooperativa indígena ser uma iniciativa pioneira, é interessante notar que os povos indígenas normalmente já têm um estilo de vida baseado na cooperação.
Entre os Akwe-Xerente, por exemplo, apesar da dualidade sociocultural (Doí e Wahirê) e da existência de vários clãs (incluindo alguns que são confrontantes), eles muitas vezes trabalham juntos, além de ter o costume de um lado realizar certos rituais para o outro (como enterros e o ritual do kupre).
Em um estudo publicado na revista de Ciências Sociais Athlos, os pesquisadores Khellen Cristina Soares e José Alfredo Debortoli comentam ainda sobre práticas cooperativas comuns no dia a dia dos Akwe-Xerente, como a realização de um almoço em conjunto:
“Crianças, jovens, adultos e idosos se juntam para organizar um almoço juntos, uns preparando a comida, outros cavando buracos, pegando gravetos para queimar ou ainda folhas de bananeira, e outros ficam por ali, em volta, olhando, rindo e brincando com este acontecimento”, descrevem os pesquisadores.
Além disso, o fato da cooperativa indígena Akwe_Xerente-Coopiax trabalhar com práticas sustentáveis também tem origem nos próprios hábitos indígenas.
Como afirmam Soares e Debortoli, no modo de vida dos Akwe-Xerente, “há uma carga histórica de relação e comprometimento com o meio em que vivem, o lugar onde residem e de onde tentam retirar recursos naturais de forma inteligente para a manutenção das futuras gerações”.
“A sociedade não-indígena, por conta das demandas estabelecidas por sua forma de viver, de produzir e consumir, constrói um modo de habitar diferente dos povos indígenas. Enquanto para a primeira há uma necessidade humana de dominação da natureza e dos recursos naturais; para a segunda [sociedade indígena] é necessária uma possibilidade de comunhão e unidade entre homem, natureza e recursos naturais”.
Leia também: Conheça as Cooperativas de Energia Solar
Aqui, falamos com bastante frequência sobre o cooperativismo. Mas você já parou para pensar o…
Desde que foi anunciado pelo Banco Central, o Drex — também conhecido como “Real Digital”…
Você já parou para pensar como será o seu futuro financeiro? A cada dia que…
Sem tempo para ler? Clique no play abaixo para ouvir esse conteúdo. Investir em dólar…
No Dia das Crianças, não precisa necessariamente ter um presentão novinho em folha. Mas é…
O desemprego estrutural é uma realidade que afeta a sociedade como um todo. Mas você…