Sabia que a compulsão por compras é um problema que pode surgir já na infância? Não são poucos os casos de crianças consumistas. Cenas de crianças chorando e fazendo manha para ganhar algo também não são raras.
Em uma sociedade com tantos apelos ao consumo, o desafio de pais, mães e responsáveis torna-se cada dia maior. De acordo com dados do IBGE, as crianças são responsáveis por movimentar, anualmente, um mercado de mais de R$ 50 bilhões em todo o país. E a questão não para por aí:
Segundo pesquisa da Viacom, as crianças têm cada vez mais poder de influência nas decisões de compra da família. Ou seja, a tendência ao consumo não é transmitida apenas dos pais para os filhos, como também pode acontecer no sentido contrário. E os pais, para agradar os filhos, muitas vezes acabam cedendo a essas pressões de consumo.
Vamos discutir um pouco melhor o assunto para entender que atitudes tomar em prol de nossas crianças:
No Brasil, a publicidade infantil é regida por algumas normas contidas na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código de Defesa do Consumidor. Mas a regra mais contundente sobre o assunto é a Resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).
Publicada em março de 2014, a Resolução da Conanda considera abusivo “o direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança, com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço e utilizando-se, dentre outros, dos seguintes aspectos:
I – linguagem infantil, efeitos especiais e excesso de cores;
II – trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por vozes de criança;
III – representação de criança;
IV – pessoas ou celebridades com apelo ao público infantil;
V – personagens ou apresentadores infantis;
VI – desenho animado ou de animação;
VII – bonecos ou similares;
VIII – promoção com distribuição de prêmios ou de brindes colecionáveis ou com apelos ao público infantil; e
IX – promoção com competições ou jogos com apelo ao público infantil.”
No entanto, mesmo com as restrições à publicidade infantil, esses pequenos e atentos observadores infantis continuam sendo alvos de outros tipos de publicidade, mesmo que não direcionadas a eles.
Talvez, então, seja o caso de repensar se não está ocorrendo uma superexposição da criança à televisão e a outros meios de publicidade. E também é importante avaliar outras influências. Veja só:
Na escola, na condução, no condomínio, no parque, na rua e e em muitos outros locais, a criança está sempre sendo confrontada com diversos padrões sociais e econômicos. Essas situações são naturais e fazem parte do aprendizado da criança.
Mas alguns fatos podem ser marcantes. Afinal, entre os próprios coleguinhas, a discussão já vai muito além do brinquedo do momento. Algumas crianças chegam até a sofrer bullying por não possuírem a mochila da moda, o tênis da marca tal ou o smartphone recém-lançado.
Cabe aos pais e responsáveis a postura de não incentivar essa competitividade na criança e buscar abordar assuntos como esses, antecipadamente, para preparar a criança para lidar com situações assim.
O ideal é mostrar à criança que o valor pessoal de cada um vai muito além dos bens materiais e que nossa segurança e autoestima não devem estar baseadas no que possuímos, mas sim no que somos. Podem parecer conceitos complexos para uma criança, mas lembre-se que ela aprende mais pelo exemplo do que pelas palavras.
O ambiente familiar é de extrema significância para a criança. Os pequenos aprendem não apenas com o que os pais e responsáveis falam, mas principalmente pelo que observam.
Portanto, antes mesmo de cobrar das crianças um comportamento diferenciado em relação ao consumo é preciso que os pais e responsáveis façam uma autoavaliação:
– Há algum outro caso de compulsão por compras na família?
– A família costuma usar as compras como forma de terapia ou de diversão?
– A família costuma ter momentos de lazer que não envolvam compras?
– A criança está acostumada a ganhar tudo que pede sem limitações?
– A criança é recompensada com presentes ou outras situações de consumo por suas “boas ações”?
– A família costuma oferecer presentes ou outros produtos à criança para compensar a falta de tempo passado com ela?
Passar tempo de qualidade com as crianças é extremamente valioso para sua formação e educação. Crianças que recebem atenção adequada dos pais tendem a sentir-se mais seguras de si mesmas e enfrentar problemas com mais facilidade.
Não adianta tentar compensar a falta de tempo com presentes, livros nem qualquer outro tipo de recompensa material. O tempo passado juntos é insubstituível. É fundamental separar um tempo de qualidade para estar com as crianças.
E não basta estar próximo. É preciso interagir, conversar, brincar, jogar, abraçar, beijar… enfim, demonstrar todo seu carinho e atenção. Fazer com que a criança sinta-se valiosa e feliz no âmbito familiar. Investir tempo na transmissão de valores e na abordagem de assuntos diversos, como é o caso da educação financeira.
Por mais que os pais sempre queiram dar “tudo do bom e do melhor” para os filhos, é necessário lembrar, por outro lado, a importância de impor limites às crianças.
Uma criança que sempre tem tudo que deseja pode ter dificuldades em lidar com limitações, insucessos e outros desafios no futuro.
Ou seja, lidar com limites faz parte do aprendizado da criança e da formação de um adulto mais preparado para o mundo. Então, converse com seus filhos para que comecem a entender isso. Explique o esforço necessário para realizar cada conquista. E não deixe de estabelecer os limites necessários, conforme o caso.
Saiba mais sobre educação financeira infantil: Como ensinar às crianças sobre dinheiro e outros valores.
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