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Pelo segundo ano consecutivo, a inflação no Brasil deve superar a meta estabelecida pelo Banco Central. Com a definição de um teto para a cobrança de ICMS sobre produtos e serviços como combustíveis e energia, houve certa desaceleração da alta de preços nos últimos meses. Porém, o IPCA acumulado continua bastante elevado e o poder de compra dos brasileiros segue sendo afetado pela alta dos alimentos e de outros produtos. O que isso significa para os micro e pequenos empresários? Como os pequenos negócios podem enfrentar os efeitos da inflação? Confira a seguir:
Efeitos da inflação
Antes de saber como combater os efeitos da inflação no seu negócio, é importante entender que tipos de impactos essa alta generalizada dos preços pode provocar.
Em primeiro lugar, trata-se exatamente disso, de uma alta nos preços, aumentando os custos produtivos e operacionais do negócio. Mas não para por aí.
É preciso levar em conta também que a alta na inflação leva ao encarecimento do crédito, limitando a viabilidade de investimentos e aumentando o grau de endividamento daqueles que já possuem empréstimos e financiamentos contratados.
Com preços mais altos e dificuldades no acesso ao crédito, o poder de compra da população é reduzido, o que pode ainda levar a uma menor previsibilidade de vendas.
Reforce o controle financeiro
Diante do aumento dos custos, a primeira atitude de muitos micro e pequenos empresários é tentar cortar gastos. Mas como saber o que cortar sem ter um bom planejamento financeiro? A consultora Lucia Amélia Gomes, do Sebrae-SP, alerta que é preciso ter cuidado para não cortar gastos que afetem a qualidade do produto ou serviço ou a entrega de valor para os clientes.
De acordo com a especialista, "alguns empreendedores não têm controles financeiros atualizados que permitam ter clareza do impacto dos aumentos na lucratividade da empresa". Por outro lado, "com um controle preciso e confiável, é possível avaliar o impacto de cada custo no faturamento e sua relevância para o negócio e para os clientes", afirma Lucia.
Portanto, para combater os efeitos da inflação, o primeiro passo é manter um controle financeiro mais atento e frequente.
Reduza gastos
Tendo um estudo detalhado das finanças da sua empresa, fica muito mais fácil tomar decisões mais assertivas para o seu negócio, que colaborem efetivamente para combater os efeitos da inflação.
Algumas dicas para reduzir seus gastos:
- Reavalie todos os custos e despesas, sejam fixos ou variáveis e confira onde há desperdícios.
- Fique atento ao consumo de energia elétrica, de água, de internet, de material de escritório e de limpeza e trace estratégias para economizar esses insumos.
- Reavalie os fornecedores e parceiros do seu negócio e, sempre que possível, tente negociar preços e condições.
- Reveja seus gastos com tarifas bancárias e considere alternativas como as cooperativas financeiras (instituições que oferecem produtos e serviços similares aos de bancos comuns com taxas muito menores e previsões de ganhos extras).
- Tenha atenção ao estoque. Evite compras constantes e excessivas, equilibrando a produção de acordo com a capacidade de vendas.
- Se você conta com o auxílio de funcionários, envolva-os no processo de redução de custos; e reveja também as responsabilidades de cada um, otimizando processos e buscando ser mais eficiente com o quadro atual.
Precifique de forma proporcional
Repassar ao consumidor todo o aumento dos custos empresariais, elevando o preço de produtos e/ou serviços, certamente, não é a melhor estratégia para combater os efeitos da inflação. Afinal, como o poder de compra da população é menor, esse aumento dos preços pode acabar levando à redução das vendas e à perda da competitividade no mercado.
Por outro lado, é possível, sim, repassar uma parte desses gastos empresariais. Tendo clareza dos custos envolvidos e já havendo tomado medidas de melhor controle financeiro e redução das despesas, é possível reavaliar os preços promovendo alguns reajustes.
"Comunique os clientes com antecedência de que haverá reajuste, explique o real motivo, acompanhe e estude os preços praticados no mercado, ofereça vantagens para fidelizar seus clientes e reforce sempre a entrega de valor e qualidade dos seus produtos e serviços", aconselha a consultora do Sebrae.
Repense os investimentos no negócio
Para controlar os efeitos da inflação, o Banco Central tende a aumentar a taxa básica de juros brasileira, a Selic, levando ao encarecimento do crédito. Ou seja, pedir um empréstimo ou um financiamento fica mais caro. Para ter melhor noção, em agosto, após o 12º aumento consecutivo da taxa, a Selic chegou a 13,75% (igualando-se ao patamar de 2016).
Diante disso, o ideal é adiar a solicitação de empréstimos e financiamentos que não são urgentes. Também é aconselhável evitar reformas, mudanças estruturais e compras de produtos ou equipamentos que podem esperar para depois.
Atenção ao mercado e aos indicadores
Na opinião de muitos analistas financeiros, a redução na cobrança de ICMS pode levar à perda de receitas com tributos, trazendo riscos para o quadro fiscal governamental, o que pode ter impactos negativos sobre a inflação mais à frente.
Portanto, a ligeira redução de preços nos combustíveis e na energia elétrica, iniciada em julho, pode acabar tendo efeitos colaterais em 2023. E estar ciente de informações como essa é importante para que você consiga se planejar não apenas a curto prazo.
Além disso, saber se os indicadores estão mais baixos ou mais altos também pode ajudar a perceber, por exemplo, se um fornecedor está cobrando um valor acima do mercado, o que pode justificar a troca de parceiro.
Manter-se bem informado sobre a situação atual e as previsões para o futuro também é, portanto, uma boa dica para conseguir controlar melhor as finanças do seu negócio e combater os efeitos da inflação.