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“A pandemia da Covid-19 despertou novos comportamentos”, opina o diretor superintendente do Sebrae Mato Grosso, José Guilhermo Barbosa Ribeiro.
“Surge um cidadão diferente, um consumidor cujos valores estão conectados com as dimensões da sustentabilidade. (…) Descobrimos em 2020 a importância do trabalho em rede, da cooperação e do respeito ao meio natural e à inteligência que vem da natureza. (…) Cooperar será a palavra-chave em 2021”.
Assim como Ribeiro, muitos especialistas acreditam que os desafios vividos ao longo do ano passado, além de servir para acelerar tendências tecnológicas, também podem favorecer a criação de uma consciência comum mais solidária, humana e cooperativa.
Só que além dessa tendência geral para a colaboração mútua, quando tratamos do âmbito cooperativista propriamente dito – incluindo instituições cooperativas e cooperados, entre outros agentes – também existem aprendizados e tendências que merecem ser comentados.
Afinal, o cooperativismo é um modelo socioeconômico em franca expansão que já faz parte do dia a dia de milhares de pessoas pelo Brasil e pelo mundo. E como afirmou o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (Sistema OCB), Márcio Lopes de Freitas:
“Em meio à crise que está acontecendo agora, muito mais acelerada pela pandemia sanitária, o cooperativismo tem sido uma forma de resiliência, de suporte das pessoas e, com isso, as cooperativas estão crescendo e o desenvolvimento é muito notável em diversas áreas.”
Quer saber, então, a quê as cooperativas brasileiras devem estar atentas este ano em termos de inovação e tecnologia? Quer saber qual deve ser o papel do cooperativismo no Brasil em 2021? Acompanhe:
– Experiência digital
Um dos efeitos da pandemia sentidos por praticamente todas as pessoas que têm acesso à internet foi o aumento da digitalização e das experiências digitais: de lives a videochamadas, do comércio eletrônico às visitas virtuais, de aplicativos de entregas a plataformas de streaming e aplicativos de controle financeiro.
A questão é que essa aceleração tecnológica não tem marcha atrás, essas mudanças vieram para ficar e também devem marcar o cenário cooperativista neste e nos próximos anos.
Nesse sentido, uma cooperativa que merece destaque é o Sicoob – maior sistema de cooperativas financeiras do Brasil – que já conta com cerca de 100 mil cooperados digitais e, recentemente, reestruturou todos os seus processos de onboarding e backoffice para acelerar ainda mais a aprovação das associações virtuais, que podem ser feitas por meio do app Faça Parte.
Além disso, desde 2019, o sistema oferece o app Sicoob Moob, que já se tornou uma verdadeira comunidade virtual cooperativa, permitindo a realização de Assembleias Virtuais, além de oferecer funcionalidades informativas, comunicativas, educativas e de negócios.
Não chega a ser uma grande novidade, portanto, que as inovações tecnológicas e as experiências digitais continuem em expansão acelerada em 2021. O destaque é que, no cooperativismo, essas inovações devem continuar sendo meios para facilitar processos humanos e beneficiar as pessoas.
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– Cooperativismo de plataforma
Outra tendência que já despontava no horizonte, foi acelerada pela pandemia e deve continuar em voga neste e nos próximos anos é o cooperativismo de plataforma.
Uma plataforma, vale esclarecer, é uma organização que facilita interações entre produtores externos e consumidores, geralmente, usando canais digitais (mas não apenas). Amazon, Airbnb, Google, iFood e Uber são alguns exemplos de plataformas.
Mas muitas instituições cooperativas – tanto novas quanto tradicionais – também têm apostado nesse modelo, tornando-se facilitadoras digitais, intermediadoras de negócios entre outras cooperativas, cooperados e outros agentes.
Exemplo disso é a plataforma cooperativa Ciclos, surgida dentro do Sicoob Central ES, com o objetivo de atender a demanda dos associados por serviços não financeiros, como energia limpa, telefonia, saúde, entre outros.
Artigo da consultoria McKinsey de dezembro de 2020, chama a atenção ainda para as plataformas digitais integradas – ecossistemas de negócios em que os usuários podem consumir produtos e serviços variados concentrados no mesmo lugar – que deve passar dos quase 2% atuais a ter participação de até 30% na economia em 2025.
– Aumento da intercooperação
Se a cooperação se mostrou, novamente, como uma boa estratégia para superar os efeitos da crise e acelerar a inovação, no âmbito cooperativista, a intercooperação – sexto princípio do movimento – se torna cada vez mais essencial.
Não é por acaso que o próprio Sistema OCB lançou recentemente a plataforma Coopera Brasil, uma rede nacional de intercooperação em que é possível encontrar produtos e serviços oferecidos pelos mais diversos tipos de cooperativas de Norte a Sul do país.
No ramo das cooperativas agro, podemos citar também o exemplo da Unium, iniciativa intercooperativa que integra as coops Frísia, Castrolanda e Capal, otimizando recursos e proporcionando melhores resultados para todos os cooperados.
É válido mencionar ainda o caso do Unimed Lab, hub criado pela Unimed Brasil para promover a intercooperação entre suas 345 coops de saúde, além de ganhar convergência e escalabilidade de soluções.
Diante do cenário atual, as integrações horizontais, verticais e até intersistêmicas, a ajuda mútua, as parcerias e os acordos de colaboração podem ser a chave não apenas para dar passos maiores, como também mais firmes.
– Inovação aberta
Você já conhece a InovaCoop, a plataforma da inovação cooperativista? Criada pelo próprio Sistema OCB, essa novidade é um ótimo exemplo de como colocar em prática a inovação aberta, incluindo materiais informativos, cursos online, cases enviados pelas próprias coops e muitas outras ferramentas úteis.
A expansão das plataformas de cocriação, dos programas de intraempreendedorismo e das parcerias com startups só vêm a reforçar a inovação aberta como tendência, tanto entre empresas mercantis quanto entre cooperativas. Apesar que a experiência das coops em intercooperar, compartilhar e colaborar pode ser um facilitador ainda maior na adoção de programas do tipo.
O Sicoob, por exemplo, foi pioneiro no país em estruturar sua operação de Open Banking – inovação aberta aplicada ao segmento financeiro –, tendo começado já em 2018 a disponibilizar APIs abertas para parceiros estratégicos.
A regulamentação do Open Banking pelo Banco Central desde outubro do ano passado demonstra que esse tipo de iniciativas colaborativas em prol da inovação deve ser cada vez mais frequente daqui em diante.
– Pessoas e valores
De acordo com a consultoria McKinsey, um dos efeitos do distanciamento social foi o de levar as pessoas a refletirem sobre o que é essencial em suas vidas. A consultoria ainda indica que um dos resultados disso é a preferência cada vez maior por consumir de organizações baseadas em propósitos, e não somente em lucro.
Nesse sentido, o modelo cooperativista como um todo, por seus próprios princípios, já ganha destaque. As cooperativas podem ter, portanto, uma boa oportunidade ao divulgar melhor seu modelo de negócio, que naturalmente já é baseado em valores mais justos e humanos.
Além disso, a consultoria Gartner ainda aponta que as pessoas, agora mais do que nunca, estão no centro de todos os negócios, o que deve resultar, de acordo com a consultoria:
- na "internet dos comportamentos" – aproveitando dados e análises de perfil para influenciar no comportamento das pessoas;
- na "experiência total" – envolvendo a experiência dos usuários e também dos colaboradores;
- e no aumento da cibersegurança – protegendo a privacidade e as escolhas dos usuários, com atenção aos requisitos da LGPD.
É o momento, portanto, das cooperativas aproveitarem que o foco nas pessoas já é característica primordial do modelo, e investirem ainda mais no aprofundamento de relações com seus cooperados e com a comunidade, aproveitando-se da tecnologia para otimizar a experiência e a segurança de todos.
– Impulsionador da economia
Outra forte tendência para o cooperativismo em 2021 é que o modelo seja um impulsionador da economia nacional, ajudando a alavancar a retomada do crescimento.
Basta observar a influência que o cooperativismo já tem no país, sendo que:
- metade da produção Agro nacional passa atualmente por uma cooperativa;
- durante a pandemia, as Coops Financeiras concederam mais crédito, proporcionalmente, do que bancos privados e públicos;
- em centenas de cidades, as Coops Financeiras são as únicas instituições financeiras disponíveis;
- em outras centenas de municípios, as Coops de Infraestrutura são as responsáveis por levar energia elétrica, telefonia e internet a toda a população.
Além disso, reconhecendo o papel das cooperativas para a inclusão dos brasileiros, o próprio Banco Central já anunciou que tem entre suas metas, até o próximo ano, a de ampliar a participação das Coop Financeiras no SFN.
O acordo de cooperação entre OCB e a APEX-Brasil, firmado em novembro do ano passado, deve ainda tratar de impulsionar as exportações das Coops Agro.
Sem falar na resiliência e proatividade já demonstrada pelas cooperativas nacionais. Afinal, juntos, somos mais fortes e podemos ir além das expectativas.