Mais do que um recurso natural, a água é o elemento que integra tudo que está vivo. É a molécula mais abundante no corpo humano e, também, no planeta. Porém, de todos os recursos hídricos do mundo, só uma pequena porcentagem é de água doce. E só uma parte dessa água doce é acessível e potável para consumo humano.
Considerando ainda a contaminação cada vez maior de lençóis freáticos e de outras fontes hídricas, além do desperdício de água e das mudanças climáticas que também afetam esse recurso, é visível a necessidade de conscientização geral com relação ao assunto.
Mais que isso, é imprescindível começarmos a ter uma visão mais globalizante sobre a água, percebendo-a não como um produto (sujeito a proprietários), mas como o elemento que interliga todos os seres vivos e, pelo qual, devemos agir cooperativamente.
Para garantir um futuro mais sustentável para o nosso planeta, cada iniciativa individual é importante. Mas também é fundamental rever a visão geral sobre o tema, uma vez que a água não considera fronteiras políticas.
Assim, a cooperação pode ser a chave para o uso solidário e democrático da água, como um bem comum que dá vida a todos.
Entre as formas de efetivar essa cooperação pela água, podemos citar, por exemplo:
- o manejo compartilhado de bacias fluviais e aquíferos subterrâneos por diversos países;
- o fornecimento de água potável por meio de redes urbanas;
- o intercâmbio de dados científicos e de experiências bem-sucedidas;
- e até mesmo a cooperação comunitária para a construção de poços em vilas rurais.
O Brasil tem uma responsabilidade ainda maior por ser um dos países com o maior volume de água doce. E, em muitos casos, encontrou boas soluções para cuidar desse recurso essencial à vida. Veja só:
O caso da Usina Hidrelétrica de Itaipu
A Usina de Itaipu, concluída em 1984, é resultado de um acordo de cooperação internacional entre Brasil, Paraguai e Argentina, para abertura do canal de desvio do Rio Paraná.
A assinatura prévia do Tratado da Bacia do Prata, ainda em 1969, envolvendo a cooperação internacional entre Argentina, Brasil, Bolívia, Paraguai e Uruguai, foi o que possibilitou tal acordo.
Atualmente, a Usina Hidrelétrica é binacional até no nome – Itaipu Binacional – administrada de forma paritária pela brasileira Eletrobras (50% de participação) e pela paraguaia Administración Nacional de Eletricidad (Ande, com 50% de participação também). Além disso, ela rivaliza com a Usina de Três Gargantas, instalada no Rio Yang-Tsé (Rio Azul), na China, pela liderança em produção de energia limpa e renovável.
A Itaipu Binacional ainda promove um abrangente programa socioambiental, o Cultivando Água Boa que envolve a atuação de quase 2 mil parceiros, entre órgãos governamentais, ONGs, cooperativas, instituições de ensino, associações comunitárias e empresas.
No contexto da cooperação internacional pela água, também é válido mencionar a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), bloco socioambiental formado por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, desde 1978, com importância estratégica para a gestão compartilhada dos recursos hídricos transfronteiriços amazônicos.
Outros acordos de cooperação internacional pela água com participação brasileira incluem o Acordo de Cooperação da Bacia do Rio Quaraí, o Tratado de Trechos de Fronteira do Rio Uruguai e o Acordo de Cooperação pelo Aquífero Guarani.
E dentro das fronteiras brasileiras, como está a situação de cooperação pela água? Confira:
Os Comitês de Bacias Hidrográficas
Em território nacional, os recursos hídricos são administrados por um Sistema Nacional de Gestão, composto por um Conselho Nacional, subordinado ao Ministério do Meio Ambiente; pela Agência Nacional de Águas (ANA), responsável pela implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos; pelos Comitês e Agências de Bacias Hidrográficas; além das Organizações Civis de Recursos Hídricos.
Os Comitês de Bacia Hidrográfica merecem destaque por reconhecerem as bacias hidrográficas como importantes sistemas sociais, econômicos e ambientais, percebendo a relevância da participação coletiva na adoção de soluções para o melhor aproveitamento e preservação desse bem comum.
Na prática, os Comitês de Bacia Hidrográfica são grupos de gestão formados por membros do poder público e da sociedade civil, além de usuários da água: fóruns em que um grupo de pessoas reúnem-se para discutir sobre o uso e a preservação da água em cada bacia.
Percebe-se, então, que esses órgãos permitem (e até demandam) o envolvimento e a participação da população, em uma atitude de cooperação com o poder público, pela defesa desse precioso recurso de interesse geral. Vale a pena informar-se.
O Centro de Permacultura Asa Branca
Além das iniciativas de cooperação internacional pela água e do modelo de gestão participativa adotado no Brasil, também merecem destaque as iniciativas comunitárias de cooperação pela água. Exemplo disso é o Centro de Permacultura Asa Branca, hoje, uma das principais referências em projetos de sustentabilidade no país.
Entre outros serviços, o Centro Asa Branca promove neutralizações de carbono, captação e armazenamento de água da chuva, tratamento ecológico de águas (ecossaneamento) e também desenvolve projetos de ocupação sustentável (tanto rurais quanto urbanos), incluindo a gestão doméstica de recursos hídricos, com tecnologia de água sustentável.
Além dos serviços ambientais desenvolvidos e da preservação ecológica do próprio local onde fica a sede da instituição (uma chácara de seis hectares), o Centro Asa Branca atua na difusão dessas ideias sustentáveis, recebendo visitantes que queiram saber mais sobre o assunto e agindo em cooperação com agricultores familiares da região, no plantio de mudas para reflorestamento de matas ciliares de rios. Vale a pena conhecer e inspirar-se em iniciativas assim.
O Coletivo 7 Saberes e os jogos cooperativos
Mudar paradigmas através da educação é o que move o Coletivo 7 Saberes, um grupo de pessoas que se reúne para pesquisar, desenvolver e vivenciar práticas holísticas, jogos cooperativos e a construção coletiva de conceitos e práticas.
No contexto da cooperação pela água, o Coletivo 7 Saberes merece destaque pelos jogos cooperativos desenvolvidos junto a um grupo com mais de 150 crianças, no Fórum da Água de 2013.
Em um desses jogos, por exemplo, cada participante segurava um pedaço de cano cortado representando um pedaço do rio. Em seguida, todos os participantes (pedaços do rio) tinham que agir cooperativamente, posicionando-se e alinhando-se, para que um balão de água pudesse passar por entre eles e “desaguar” em um balde colocado ao fim do caminho. Uma lição simples e lúdica que demonstra que até os rios cooperam entre si para chegar ao mar.
Tomando a questão em perspectiva, o exemplo do Coletivo 7 Saberes revela, ainda, a importância de educar, formar e informar a todos sobre as questões que envolvem os recursos hídricos, de forma a promover a conscientização geral para o melhor aproveitamento, menor desperdício e maior preservação da água – objetivos que só podem ser alcançados de forma cooperativa, entendendo que a água é um bem de todos.
Saiba mais sobre o assunto neste documentário: Água e Cooperação: Reflexões para um Novo Tempo
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